sexta-feira, 27 de junho de 2014

Jogo dos Pezinhos

Fazer vários pezinhos de EVA. Recortar vários quadrinhos (usando sobras de EVA). Cada aluno joga o dado uma vez e pega a quantidade de quadrinhos correspondente ao número que tirou no dado. Toda a vez que ele junta 5 quadrinhos ele faz a troca por um pezinho. Ganha o jogo quem conseguir mais pezinhos.

Receita de Alfabetização

Pegue uma criança de 6 anos e lave-a bem. Enxágue-a com cuidado, enrole-a num uniforme e coloque-a sentadinha na sala de aula. Nas oito primeiras semanas (mar./abr.), alimente-a com exercícios de prontidão. Na 9ª semana (mai.), ponha uma cartilha nas mãos da criança. Tome cuidado para que ela não se contamine no contato com livros, jornais, revistas e outros perigosos materiais impressos, Abra a boca da criança e faça com que engula as vogais. Quando tiver digerido as vogais, mande-a mastigar, uma a uma, as palavras da cartilha. Cada palavra deve ser mastigada no mínimo 60 vezes, como na alimentação macrobiótica. Se houver dificuldade para engolir, separe as palavras em pedacinhos. Mantenha a criança em banho-maria durante quatro meses (mai./ago.), fazendo exercícios de cópia. Em seguida, faça com que a criança engula algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para não embolar. No final do oitavo mês (dez.), espete a criança com um palito, ou melhor, aplique uma prova de leitura e verifique se ela devolve pelo menos 70% das palavras e frases engolidas. Se isso acontecer, considere a criança alfabetizada. Enrole-a num bonito papel de presente e despache-a para a série seguinte. Se a criança não devolver o que lhe foi dado para engolir, recomece a receita desde o início, isto é, volte aos exercícios de prontidão. Repita a receita tantas vezes quantas forem necessárias. Ao fim de três anos, embrulhe a criança em papel pardo e coloque um rótulo: “aluno renitente”. Alfabetização sem receita Pegue uma criança de 6 anos ou mais, no estado em que estiver, suja ou limpa, e coloque-a numa sala de aula onde existem muitas coisas escritas para olhar e examinar. Servem jornais, livros, revistas, embalagens, propaganda eleitoral, latas vazias, caixas de sabão, sacolas de supermercado, enfim, vários tipos de materiais que estiverem ao seu alcance. Convide as crianças para brincarem de ler, adivinhando o que está escrito: você vai descobrir que elas já sabem muitas coisas. Converse com a turma, troque idéias sobre quem são vocês e as coisas de que gostam e não gostam. Escreva no quadro algumas das frases que forem ditas e leia-as em voz alta. Peça às crianças que olhem os escritos que existem por aí, nas lojas, nos ônibus, nas ruas, na televisão. Escreva algumas dessas coisas no quadro e leia-as para a turma. Deixe as crianças cortarem letras, palavras e frases dos jornais velhos e não esqueça de mandá-las limpar o chão depois para não criar problema na escola. Todos os dias, leia em voz alta alguma coisa interessante: historinha, poesia, notícia de jornal, anedota, letra de música, adivinhações. Mostre alguns tipos de coisas escritas que elas talvez não conheçam: um catálogo de telefone, um dicionário, um telegrama, uma carta, um bilhete, um livro de receitas de cozinha. Desafie as crianças a pensarem sobre a escrita e pense você também. Quando elas estiverem escrevendo, deixe-as perguntar ou pedir ajuda ao colega. Não se apavore se uma criança estiver comendo letra: até hoje não houve caso de indigestão alfabética. Acalme a diretora se ela estiver alarmada. Invente sua própria cartilha. Use sua capacidade de observação para verificar o que funciona, qual o modo de ensinar que dá certo na sua turma. Leia e estude você também. Profª. Drª Iole Maria Faviero Trindade Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Para Refletir

Adoro muito esse texto de Celso Antunes!!! Procuro relê-lo com frequência para me inspirar... Sei que não faço tudo o que aqui está escrito, mas procuro aprimorar minha prática dia-a-dia. Maria Preta A professora Maria, preta, gorda, lustrosa é um modelo de simpatia. Enorme, não passa de frente por lugares que outras pessoas passam e, dessa maneira, sempre vira de lado para que seu corpo volumoso possa atravessar as portas estreitas e alguns espaços apertados de sua escola. Apesar de seu tamanho gigante, sempre chega à escola meia hora antes do início das aulas. Isso fazia parte de sua rotina, pois compreendia que não podia iniciar as atividades sem preparar o ambiente, organizando o espaço de maneira que o mobiliário e o material facilitassem a atividade autônoma dos alunos. Em sua sala, por sua conta e risco e colaboração das famílias que podiam, jamais faltava recipientes plásticos com material de limpeza, cantinho para jogos, lugar para os livros de história, recipientes plásticos com material de pintura e até uma estante onde se acomodam alguns velhos instrumentos musicais. Todos os alunos de Maria sabiam sempre o lugar de todas as coisas. Após o sinal de cada dia as crianças chegavam e como já haviam aprendido a se apropriar do espaço e familiarizar-se com os móveis, sabia também as tarefas cotidianas, anteriormente planejadas, desde regar as flores, até fechar as portas sem barulho, movimentar as cadeiras com serenidade. Os alunos de Maria não percebiam que aprendiam, mas já sabiam como dominar seus movimentos, coordenando-os as suas tarefas, agindo, colocando e mantendo as coisas em ordem. A professora não tem obsessão pela ordem, mas sabe que seus alunos necessitam aprender a se situar no mundo, cooperando sempre, sem precisar de ninguém. Aprenderam também, sem nem perceber que aprenderam, que lavar as mãos é essencial, pendurar casacos necessário, pôr o avental faz parte da rotina. Sabem usar o banheiro, aprenderam a dar valor aos alimentos e ao mesmo tempo aprenderam a comer, sabendo se servir e ajudar os colegas, se necessário. Em verdade, os alunos de Maria aprenderam mesmo é se tornar independentes, ser autônomos, descobrindo que podem por si mesmos, na escola e em casa, viver sem ter que pedir o que não precisa ser pedido, resolver situações com criatividade, controlar a ansiedade. Sabem o que é liberdade e como usá-la, jamais perguntam o que sozinhos sabem descobrir. Nas aulas com Maria prendem a cumprimentar, as regras essenciais para jogar, como desenvolveram hábitos de se despir, escutar e somente interromper uma conversa se essencial. Aprenderam a fazer amizades, receber bem os colegas novos, cuidar com serenidade dos adultos que deles se aproximam. Descobriram, experimentando e exercitando em sala de aula como se comportar nos transportes e nos lugares públicos e que assim agir é forma de civismo, mas é forma de independência também. Em aula muitos se equilibraram sobre uma linha e aprenderam a dominar movimentos do corpo e dirigir com atenção o pensamento, se é hora de exercitar o pensar. Brincam com figuras geométricas e aprendem suas formas, interessam-se por sua cor. Aprendem a lamber, pois é essencial que aprimorem o paladar. Sabem ver, pois praticam experiências para perceber que ver é mais que olhar e que é coisa que na escola se aprende. Existem momentos para aprimorar o tato, comparar texturas, identificar cheiros e dramatizar com jogos diferentes, muitas vezes as coisas que aprendem. Quando chega a hora de aprende com letras do alfabeto, constroem palavras e com números organizam equações. Alguns apanham cartões classificados, escrevem as idéias propostas em seu caderno e não poucas vezes somam, dividem, brincam de banco e ou de mercearia. Uma delas, vez ou outra procurando pintar o que desenhou deixa cair um vaso com água. Ninguém se assusta e Maria, sempre sorrindo, não se sobressalta. Não há risos e nem tensão e o próprio aluno, ajudado por um amigo, se encarrega de apanhar o material de limpeza e enxugar o chão. Existem dias em que trabalham artes plásticas, aprendem a misturar cores, desenhar, modelar, cortar, furar, decorar, colar. Descobrem que existe autonomia e liberdade, mas que bom gosto se aprende. Em outros dias é com musica que se trabalha e tem hora pra cantar, dançar, improvisar, adivinhar sons que propositalmente Maria esconde. Há também dias de pesquisar, observando caracóis, aprendendo com formigas, pesquisando abelhas, acompanhando a semente germinar no algodão úmido. O currículo para os alunos de Maria não é muito diferentes dos outros de outras escolas, a diferença, entretanto é que não ordena à criança o que ela precisa fazer, mas mostra o que fazer fazendo. Além disso, seus alunos nunca se sentem culpados e não tem medo de errar, pois aprendem que o erro faz parte do processo e que nenhum erro é sério quando se aprende a corrigi-lo e tentar não mais errar. Sabem que muitas vezes o colega é o melhor professor. Seus alunos muitas vezes trabalham individualmente, mas existem atividades em pequenos grupos e atividades que toda a classe participa coletivamente. Maria não precisa ficar repetindo o que todos já sabem: Aprender significa ser protagonista de sua própria aprendizagem. Não lembra a todo o instante a mensagem que nunca esquecem: Toda pessoa é livre para agir, o único limite é a liberdade do outro. A sala de aula “ferve” em atividades, mas o ambiente é serenamente tranqüilo e a imensa Maria trabalhando muito parece sempre descansar. Maria, preta, gorda, lustrosa, imensa incorporou sem jamais conhecer pessoalmente, uma outra Maria, morta há tempos e de sobrenome Montessori. Celso Antunes